Nascido em Barcelos em 2001, João Miranda é poeta e, ao mesmo tempo, cantor-compositor e pianista com obra musical já publicada. É membro do “Sarcasmos Irónicos” desde 2019 e frequenta neste momento a Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desde cedo ligado à música, conta neste momento com o lançamento de alguns singles, de um álbum e de um EP. Estreou-se em 2020 com o single “Mamã, Eu Amo-te!”, seguindo-se o single “Happy New Year” e o álbum “Agnórise”. Em 2021, lança os singles “With You” e “A Vida de Poeta” e lança o EP “O Amor”. Para os mais curiosos que queiram conhecer esta obra mencionada, poderão clicar neste link. É o quinto convidado da nossa rubrica “Entrevistas Interartísticas”, integrando também o leque de membros do Sarcasmos que já foram entrevistados para esta rubrica. Tem a amabilidade de responder a 30 perguntas que inquietam qualquer artista e que, ao longo desta rubrica, vão ser colocadas a vários escritores e artistas. É o primeiro a responder à nossa versão da rubrica dirigida aos músicos. Agradecemos a disponibilidade e amabilidade do nosso entrevistado em responder a tais perguntas inquietantes. Sarcasmos Irónicos: Quando ganhou interesse pela música? João Miranda: A música sempre fez parte da minha vida, desde os 3 anos, quando comecei a tocar piano. O interesse em si não veio logo ao início, ganhei com os anos de prática e ensino musical. SI: Quais as suas inspirações na música? JM: Inspiro-me muito no Pop. Muita gente considera o Pop vazio e sem conteúdo. Eu não podia discordar mais dessa ideia. Além disso, gosto de me inspirar nas grandes obras-primas da música erudita. SI: Qual o tipo de música que mais ouve e que o deixa mais entusiasmado? JM: Em termos de entusiasmo pelo papel que pode vir a ter no futuro, acho que o Pop e todas as suas variantes me deixam bastante ansioso. Já em termos do entusiasmo puramente musical, acho que, aí, a música erudita (especialmente a ópera) continua a ter um papel fundamental na minha vida. SI: Qual o(s) músico(s) que mais o inspira? JM: Inspiro-me pela arte de todos os artistas. Foi a conclusão que cheguei recentemente. SI: O que considera mais importante na música? JM: Para mim, a letra deve desempenhar um papel fundamental. Gosto de fazer músicas cujas letras transmitem uma mensagem, seja ela do que for, e gosto sempre de ouvir outras músicas com mensagens com as quais me identifico. SI: Costuma “planear” um original ou ele sai naturalmente? JM: Depende do meu estado de espírito, sempre. Há momentos em que a música sai naturalmente, outros que tenho de puxar bastante pela música. SI: Quando precisa de compor, mas não tem ideias, o que faz? JM: Não componho. Eu acho, que, na música e na arte, tudo o que tem de ser fabricado deve ser evitado. Se a música não me sai naturalmente, significa que não tem de sair no momento. Eu sou daquele tipo de pessoas que defende, que para escreveres deves estar ou a sofrer, ou muito feliz. SI: Na sua opinião, qual o papel da Música na formação das pessoas? JM: Muitíssimo grande. Se todos os estudantes do ensino básico tivessem acesso a alguma formação musical (sem contar com as brincadeiras com as flautas no 5º e 6º ano), acesso facilitado a concertos, a óperas, a gigs de músicas alternativas, etc… sairiam do ensino básico mais maduros e completos do que saem atualmente. SI: Como devemos despertar o gosto pela música nas pessoas? JM: Eu acho que todos ouvem música, ela está em todo o lado. Devemos é ensinar as pessoas, os governos e as instituições, a darem mais atenção. Mas isso já é um problema global às artes. SI: Que tipo de obras musicais não devem faltar numa playlist? JM: Há obras que devem ser universais. A La Traviata e uma das óperas de Mozart tinham de estar nessa playlist, uma sinfonia de Beethoven, um noturno de Chopin, um coral de Bach, o Requiem de Mozart e uma Lied de Schubert. Acho que se todos ouvissem esta playlist, o mundo seria um sítio melhor. SI: Qual é, para si, a importância de uma boa capa num álbum? Acha que uma boa capa atrai leitores ou acha que estraga o álbum? JM: A importância de uma capa é enorme. Os livros têm um pequeno resumo da história, que permite que os leitores tomem a decisão se vão comprar ou não. Nos álbuns, o resumo é a capa. É a capa que tem de cativar o “leitor” e é a capa que tem de fazer entender ao “leitor” que tipo de álbum é aquele que vai comprar. SI: Gosta de capas mais bonitas e “românticas” /impressionistas” ou de capas mais gráficas ou arrojadas? JM: Sou uma pessoa arrojada, por isso, a mim chama-me mais à atenção as capas arrojadas. Gosto daquelas capas que me fazem parar para observar um álbum numa montra com mais 100 expostos. SI: Quais as características de uma boa canção? JM: Emoção, sempre. SI: Prefere canções mais pesadas ou mais ligeiras? JM: Gosto das duas, depende sempre do momento em que me aparecem. SI: Qual a sua maior dificuldade na música? JM: Passá-la a um público ou fazer crescer esse público. Eu apercebi-me que a minha música era demasiado específica, as pessoas não gostam de especificidade. Elas gostam de serem reconhecidas nas letras. SI: Qual é a importância dos agentes numa carreira musical? E dos concursos televisivos relacionados com a música (por exemplo, The Voice)? JM: Ambos são de grande importância, na minha opinião. Eu, enquanto músico independente tenho de criar e construir todos os projetos do início ao fim. Se tivesse uma equipa a ajudar-me no processo, seja em termos de trabalho intelectual e de mão de obra ou financeiros, seria uma grande ajuda. No entanto, ambos restringem a admissão de pessoas neste mundo fantástico da indústria musical por, parâmetros decididos por um grupo de 5 ou 6 pessoas, nisso já não consigo encontrar grandes qualidades. Tudo tem o seu lado bom e o seu lado mau. SI: Qual o género musical terá mais peso na sociedade no futuro? JM: Espero que seja o Pop e todas as suas variantes. Também espero que a música erudita venha a desempenhar um papel cada vez mais fundamental na sociedade do futuro. SI: Qual é, na sua opinião, o instrumento mais difícil de aprender/tocar? JM: São todos, porque todos exigem no mínimo duas horas de treino diárias. Toda a gente é capaz de tocar qualquer instrumento sem grandes dificuldades. Agora, até alcançar-se o domínio mínimo do mínimo, falamos em 10 anos, 15 anos. SI: Quais são os artistas que mais gostaria de partilhar o palco? JM: Neste momento, em Portugal, gostava de cantar com a Cláudia Pascoal ou com a Ana Moura. SI: O que mais lhe atrai como músico? JM: A incerteza de onde a música nos leva. Quando estamos a escrever de forma natural, a música pode-nos levar para lados inimagináveis, o mesmo acontece quando estamos a atuar: emoções vêm ao de cima de forma inexplicável, temos de conter choros, memórias aparecem e desaparecem. É muito bonito! SI: Quais as relações possíveis entre a Música e outras artes como a Literatura e o Cinema? JM: A Música está em todo o lado. Tem uma relação recíproca com a literatura, é essencial nas bases do cinema, está presente no Teatro e nas outras artes cénicas. Mas gosto de pensar na relação Literatura-Música como uma forte relação de carinho. SI: O que o fascina na Música? JM: A emoção. Sou uma pessoa de emoções. SI: Já pensou em tocar/compor noutro estilo? Se sim, qual? JM: Falando em estilos modernos, tento variar bastante, não me prendo apenas num som. Já com os estilos eruditos, nunca me atreveria a tentar. É algo demasiado perfeito. SI: Se pudesse ser uma canção/composição já criada, qual seria? JM: Gostava de ter escrito qualquer música dos Queen ou, então, a “November Rain” dos Guns n' Roses. SI: Se pudesse ser um artista/compositor qualquer, qual seria? JM: Adorava ter um bocado da maluquice da Cláudia Pascoal em mim! SI: Qual a canção/composição mais chata que já ouviu? JM: Não sei citar uma em específico, mas todas as músicas que usem palavras depreciativas sobre as mulheres ou cantem sobre o encanto da violência, perdem-me. Estou a lembrar-me de uma, agora, que fez polémica há uns 2 anos: BFF, do Valete. SI: Qual o artista/compositor com quem “não vai à bola”? JM: O Agir. Penso que o estilo de música dele retrata algo muito diferente daquilo que ele é. Normalmente, tendo a fugir do tipo de pessoas que não se despe na arte que faz. SI: Qual a importância dos grandes prémios? JM: Acha-os importantes ou acha que criam pressão sobre um artista/ compositor através de um mediatismo pouco saudável? Gostaria de ganhar algum prémio em especial? Eu ainda vejo qualidades nas grandes premiações. Na minha cabeça, faz sentido existir algum tipo de pressão sobre qualquer artista, para forçar a criação de trabalhos sempre melhores. Quem não quiser esse tipo de pressões, pode sempre não submeter os seus trabalhos. Todos os músicos sonham com o Grammy, eu também, mas, num futuro próximo, um prémio Play já seria uma grande vitória. SI: Quais as suas aspirações? JM: Ser reconhecido naquilo que trabalho. Seja em que área for. Como sempre me disse a minha avó: “Ser um bom profissional”. SI: Em jeito de conclusão, que conselho dá a novos artistas/compositores que estão no “armário”? JM: Não tenham medo de partilhar com o mundo as vossas criações. Arranjem amigos que vos ajudem a tornar os vossos sonhos realidade, cresçam juntos, ajudem-se mutuamente. Foi assim que comecei, com o Tiago Marques e com o Diogo Silva (que formam o duo de Lo-fi Lau Slater), éramos e ainda somos 3 “putos” num estúdio pequeno cheio de grandes ambições e grandes sonhos. Algo que se está a perder muito é a ideia de uma comunidade de músicos que se apoiam mutuamente, por isso, o meu conselho também vai para os laços de apoio mútuo com outros músicos e artistas…são fundamentais. Acima de tudo, não tenhas medo de tentar e, se gostares, não tenhas medo de continuar a tentar. “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” - já o dizia Fernando Pessoa.
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AutorPedro Maia Histórico
Janeiro 2022
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